Chapa “Até que se torne Inevitável…”
O Centro Acadêmico:
A vida na Universidade não é perfeita, pelo contrário, é nela que, eventualmente, nos deparamos pela primeira vez com problemas de dimensões antes pouco captadas pela nossa percepção. Estes são apresentados a nós individualmente, mas devem ser entendidos em conjunto e resolvidos coletivamente.
Por isso, nós da chapa “Até que se torne inevitável…” defendemos a concepção de que o C.A deve ser considerado um espaço onde a discussão, deliberação e decisão coletivas são realizadas em público pelos estudantes, constituindo um mecanismo que possibilita transformações, uma vez que faz surgir o novo através da organização de um movimento por uma universidade e uma sociedade mais dignas.
Entendemos o C.A. enquanto um organismo pluriparticipativo e autônomo – aberto para as idéias de indivíduos, grupos, coletivos, partidos, etc. -, expressando a oportunidade de nós, estudantes, sermos livres e responsáveis para lutar por outra realidade. A manutenção dessa liberdade, em contrapartida, exige o nosso comprometimento, sendo constantemente necessário nos doarmos inteiramente para a discussão de questões que envolvem o público em detrimento de nossas necessidades privadas.
Concebemos assim que, é de suma importância a participação do maior número de estudantes constantemente nas reuniões e atividades do C.A, pois não acreditamos que os membros da gestão são meros indivíduos que se oferecem a prestar serviço político ao resto dos estudantes: semelhante ao trabalho executado por uma alavanca, o seu principal dever reside em impulsionar o debate e a ação, com base em um programa político e nas questões que os estudantes decidem tratar. Sua disposição em participar diretamente da organização do C.A. não faz – e nem deve fazer – deles uma vanguarda política que sozinha pensa, cria e decide por todos, pois elaborar uma ação política não é algo que corresponde a retirar uma mercadoria da prateleira de um supermercado, já pronta e acabada para ser utilizada: é preciso construí-la!
Pela Educação e Organização Nacional!
Desde o ano passado, as mobilizações internacionais provaram que a juventude e o Movimento Estudantil continuam a ter um papel de resistência e transformação na defesa da educação e de outro modelo de sociedade. Por isso, acreditamos que o CAHIS deve estar em sintonia com as pautas nacionais – e internacionais – de luta social, em especial no que toca à educação.
O último Plano Nacional de Educação (PNE) proposto pelo Governo Federal e aprovado neste ano revela a continuidade de políticas de precarização e privatização do sistema educacional público. Entre suas principais diretrizes encontram-se: o investimento de apenas 7% do PIB (somente para 2020!), manutenção do REUNI – programa que prevê a expansão de vagas sem o aumento proporcional de verbas que criou, gerando este ano uma série de greves e mobilizações em dezenas de universidades federais por conta da precariedade; ampliação do ensino à distância e da privatização (PROUNI – financiamento público de vagas em instituições privadas).
Dentro disso, devemos lembrar a situação do professor hoje, que vê, a cada dia, aumentar a precarização das suas condições de trabalho concomitantemente à desvalorização de seus salários.
Os estudantes, que já lutaram historicamente pela defesa da educação pública, ano passado realizaram um plebiscito nacional pelo aumento dos repasses públicos para a educação em defesa da melhoria do ensino em cada localidade: 10% de investimento público para a educação pública e de qualidade, já!
Acreditamos que o CAHIS não pode estar fora destas lutas, integrando sua plataforma de reivindicações locais com outras entidades estudantis e movimentos sociais que estão inseridos nesta mesma realidade.
Para isso, é necessário que se articule nos níveis local e nacional: com outros Centros Acadêmicos, com o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e as entidades nacionais como a ANEL e a Oposição de Esquerda da UNE, assim como a Federação do Movimento Estudantil de História (FEMEH), que tem como principal bandeira a campanha pela abertura dos arquivos da Ditadura – algo que há muito tempo é demanda dos estudantes da nossa área. Dentro disso, nosso C.A a construiu em 2012 o Encontro Regional (EREH) e construirá o Encontro Nacional de Estudantes de História (ENEH), ambos em São Paulo.
Pela Universidade!
A USP: uma universidade pública necessita ser um espaço laico, gratuito e de qualidade, a serviço da população. Não é o que tem acontecido, desde sua fundação até os dias atuais. Sob a máscara da modernização, a atual Reitoria vem implantando um projeto que visa intensificar a privatização, o produtivismo, a precarização do trabalho e a elitização na Universidade em detrimento do senso crítico e da qualidade da produção científica, implementando tais práticas através de graves medidas coercitivas ao tom da ditadura militar.
Ao invés de ampliar suas fronteiras e derrubar os seus muros o que vemos é uma USP cada vez mais fechada em si: o vestibular ainda não avançou na política de cotas, a maioria da unidades não tem uma política séria de extensão e o seu próprio espaço físico vem se fechando para o serviço à comunidade.
A entrada autorizada da PM no campus é a expressão mais recente desse fechamento. Justificada pela necessidade de segurança, pretexto para perpetuar e desenvolver um projeto de universidade autoritário, anti-democrático, elitista; afinal como diz a “reitorarquia”: “um ensino público não necessariamente precisa ser gratuito.”
A universidade tem o papel de pensar criticamente a sociedade, entretanto a reitorarquia se absteve desse papel de fomentar a construção de alternativas à melhoria da segurança no campus, por questões evidentemente políticas, e trouxe, negando o senso crítico, uma opção corrupta, desumana e malograda como a PM, a qual possui uma tarefa clara, que é a de reprimir a atuação política e crítica do corpo universitário, chegando ao ponto de prender e processar 73 estudantes e expulsar 6 por praticar sua liberdade política em prol da coletividade.
O que ocorre, na verdade, é que a USP está se enclausurando cada vez mais, isentando-se de fomentar ações, pesquisas e atividades de extensão que ampliem a relação com o mundo do trabalho, organizações sociais e com os movimentos populares.
A Policia Militar reforça cada vez mais um distanciamento, pois já tem tomado atitudes violentas com os estudantes, trabalhadores e com a população que circula pelo campus, pautada em estereótipos preconceituosos, que acabam transformando ‘segurança’ em mais um método de repressão e cerceamento.
Queremos mais iluminação, mais pontos de ônibus, mais circulares, e que a USP esteja mais aberta a comunidade, pois só assim avançaremos em relação à segurança e a um projeto de Universidade realmente pública.
Quando se trata de recursos, a USP apresenta-se contraditória, pois possui verbas que ao invés de serem aplicadas para melhorar sua estrutura, permanência estudantil, contratar mais professores, etc, são utilizadas para comprar escritórios e vagas de estacionamento na região da Paulista, além de tapetes de R$50mil.
Além disso, o reitor Rodas fez pronunciamentos na mídia favoráveis ao financiamento privado e à cobrança de mensalidades e, na prática, este
projeto já trouxe consigo cursos pagos, inclusive uma graduação paga na FEA. A que necessidades sociais respondem este tipo de financiamento?
Dentro dessa política privatista, encontramos um grande problema, que no ano passado saltou aos olhos de todos: a política de terceirização de serviços na USP. Temos que lutar contra a terceirização, pois está totalmente vinculada à desqualificação e antidemocratização do ensino, fruto da decisão da reitoria e de um projeto político que reforça a lógica de precarização do trabalho. Ainda mais, quando sabemos que os
funcionários concursados têm sua estabilidade de emprego e liberdade de luta ameaçada por políticas de avaliação produtivistas – PROAD.
Os pesquisadores – docentes e discentes – também são prejudicados com um projeto produtivista e privatista. A qualidade das pesquisas é totalmente baseada em critérios
quantitativos, como o número de defesas de teses, papers, etc. O novo regimento da pós-graduação divide o que é produção científica do que é mercadológica, e exclui a obrigatoriedade da pós ser gratuita, também reduz o pra um ano, coloca novas metas e avaliações meritocráticas. Por outro lado, a idéia de extensão encontra-se diluída e são poucos os incentivos para a integração e a articulação da Universidade com a formulação de atividades em áreas de interesse social.
Cada vez mais a USP adapta-se aos moldes que os rankings exigem. No fim do ano passado a
reitoria elaborou novas diretrizes curriculares visando à sua ”modernização”, avaliando os cursos de acordo com a sua “demanda social”. Concretamente, isso significou a tentativa de diminuir o número de vagas em alguns cursos e de fechar outros. Enquanto isso, muitos programas de Ensino à Distância estão sendo implementados como “poupadores de mão-de-obra”, viabilizando o aumento das estatísticas referentes às matrículas de uma maneira barata e precária.
Nossa chapa propõe a realização de constantes debates com os demais estudantes do Departamento, buscando dessa forma uma maior participação e envolvimento
de todos na busca por soluções e ações no combate desses e de outros ataques promovidos incessantemente pela reitoria.
A exemplo a Semana de Graduação que realizamos ano passado e nos permitiu novos acúmulos sobre nossas propostas.
Achamos importante construir um diálogo com os demais centros acadêmicos da FFLCH, buscando uma unidade estudantil prática para desenvolver possíveis projetos de extensão.
Pelo Departamento…
O curso de história da USP é considerado hoje como um dos melhores do mundo. Contudo, não devemos nos deixar levar pela avaliação dos rankings, refletindo o que estudamos e como agimos no departamento. A começar com o nosso currículo em que vemos a deficiência de conteúdo, como em História da África e Ásia, contribuindo na manutenção da história europeizante; e de forma, com a falta de um primeiro semestre que integre os calouros, com a falta de planejamento para os cursos do noturno, dificuldade na matrícula, salas lotadas, etc.
Mas encontramos alguns problemas de fundo para conseguirmos transformar essas questões do cotidiano: a estrutura de poder do departamento. Os principais espaços de discussão entre professores e estudantes, para o planejamento e elaboração de soluções conjuntas para os problemas existentes no departamento não funcionam de forma democrática. A Plenária Departamental, por exemplo, é realizada uma vez por mês no período matutino, destinando uma representação discente de apenas cinco estudantes contra a esmagadora maioria do corpo docente (estando todos os professores habilitados a votar e sendo que constantemente o departamento “esquece” de convocar os representantes discentes). Ou seja, além de restringir o número de votos dos estudantes em assuntos de seu próprio interesse, vemos que a plenária, realizada em horário de pouca circulação estudantil, opera de modo a limitar até mesmo a simples audiência discente.
Nestes termos, consideramos de suma importância enfrentar a “estrutura de poder” do departamento. Por isso defendemos a existência de assembleias departamentais, ou seja, espaços de discussão entre professores, funcionários e estudantes das questões do nosso departamento, cujos encaminhamentos sejam levados ao conselho departamental, e que sejam realizadas no entre aulas estendido, com divulgação de data, local, horário e pautas por e-mail institucional de todos os estudantes, para que seja possível uma participação ampla. Também defendemos isso para as comissões e, ainda consideramos essencial a efetivação de uma “comissão de orçamento”, paritária, que dê aos estudantes uma ampla noção dos repasses financeiros feitos ao departamento e a destinação dessas verbas; e da comissão de avaliação do curso, aprovada na semana de graduação de 2011, que discuta sobre as elaborações que temos acumuladas e avance para concretizar uma reforma curricular.
Como Historiadores!
O ano passado e também 2012 estão sendo marcados por manifestações populares massivas e expressivas, que ocuparam praças e tomaram as ruas, mostrando que a despeito do que se achava o curso da História não chegou ao seu fim.
Nesse contexto, é preciso pensar profundamente: qual é a função social de nossa profissão?(lembrando que na verdade não há a profissão historiador).
Acreditamos que o historiador não deve se abster dos processos, analisando os de modo distanciado e academicista. Este deve se inserir como sujeito na realidade do tempo presente, atuando e produzindo significações e interpretações dos processos históricos a partir da práxis e, principalmente, para a práxis, é somente assim que o ofício do historiador ganha significado e relevância social.
Temos que ser ativos e questionar os moldes pelos quais a História nos foi passada na escola, e que nos é passada agora no Ensino Superior, pois a construção da história e da memória se refletem na formação escolar, intelectual e identitária da sociedade, sendo essenciais no combate à exploração e à opressão.
Temos que revolucionar as prioridades, e questionar: história pra quê? E pra quem?
A Comissão da Verdade, aprovada este ano pelo governo federal, tem o papel de criar um ‘discurso oficial’ no entorno do período da ditadura militar no Brasil. Sua formação não contempla as exigências dos movimentos sociais que pautam esta questão. Os historiadores não podem se furtar de ser um agente social e político nesse processo, em defesa das vítimas diretas do Golpe, e da sociedade. Na USP, por exemplo, um monumento na Praça do Relógio, nomeou, ‘por engano’, o golpe militar como “Revolução de 64”.
Frente a isso, propomos a existência de um espaço periódico para debater e nos informar acerca dos processos da atualidade tanto na Universidade quanto no Brasil e no mundo.Pautando também nossa inserção prática nos movimentos sociais.
Pelo Meio Ambiente!
As discussões sobre o meio ambiente, ou seja, o local em que vivemos e do qual dependemos para nossa sobrevivência, vem se intensificando nos últimos anos.
Entretanto, a Universidade e o movimento estudantil ainda não tratam a temática com a devida atenção. É necessário despertar na sociedade uma consciência crítica sobre os problemas que o planeta vem enfrentando e buscar soluções, partindo do questionamento sobre as informações parciais – e, muitas vezes, enganadoras – apresentadas pela mídia e unindo as soluções individuais às ações de grande escala.
Para debatermos o meio ambiente, não podemos esquecer a ligação direta existente entre a temática e as questões políticas e sociais da atualidade. Isso significa estabelecer a relação da ação humana na natureza com os interesses políticos das grandes empresas, a desigualdade na distribuição de recursos, a confusão entre o patrimônio público e a iniciativa privada, entre diversas outras, colocando em xeque a bandeira do desenvolvimento sustentável, que não é compatível com a lógica de produção capitalista.
A partir disso, esta chapa propõe a construção de uma semana dedicada ao meio ambiente na História, abordando a questão através de palestras, oficinas e mesas de debate, com o auxílio de profissionais de outros departamentos da universidade.
Também promover maiores informes sobre as discussões e as soluções ambientais através do boletim do CAHIS, realizar trabalhos diretos com as comunidades que são vítimas da intensificação do processo de degradação e abrir maiores espaços de debates sobre o tema no departamento.
Na Arte e na Cultura!
A Arte: uma linguagem. Uma forma expressiva de intercâmbio do pensamento, de atitude e técnica entre os seres humanos. Expressão de liberdade e crítica.
O debate sobre a atividade artística se faz necessário no curso de história, principalmente quando percebemos um distanciamento entre arte e o movimento estudantil. O porquê de tal distanciamento? Pergunta a qual queremos responder, não apenas com retórica, mas trazendo a produção artística de volta às nossas reuniões, aos nossos pátios e corredores.
Os artistas sempre estiveram na vanguarda dos movimentos sociais, sendo capazes de produzir uma só linguagem para o letrado e o indouto, além de provocarem na história o questionamento das estruturas de poder que privaram ser humano de sua liberdade.
A Arte: geratriz de um Movimento que deve indagar aparelhos estranhos ao interesse coletivo.
Nossa chapa quer trazer os estudantes de história para construir um coletivo de Arte e gerar um movimento na USP, no qual se reflita sobre uma arte de ruptura, de questionamento e provocação da inércia sociopolítica de nossa época. Existem rochas que há muito precisam ser questionadas e trituradas por nossa crítica e ação; como as estruturas de poder, a desigualdade social, o machismo, a homofobia, o racismo. Elementos petrificados na malha de nossa mentalidade, como se fossem inerentes à natureza social e alheios à nossa percepção crítica.
Dois festivais de Arte foram pensados, um em cada semestre, para compor o ciclo de debates de nosso curso; de forma que os estudantes construam coletivamente esses eventos e apresentem suas ideias e obras, com o objetivo de discutir sociedade, política e universidade, pensando e propondo ruptura, Catáclase.
Contra as Opressões!
A sociedade em que vivemos hoje está baseada na exploração que necessita firmar-se cotidianamente. As opressões estão inseridas nesta lógica da qual são, ao mesmo tempo, produtos e produtoras. A universidade não está isenta de violência da exploração e da opressão, por isso queremos debater como isso se expressa e afeta tod@s nós.
O machismo… está estampado nos cartazes de festas, que usam o corpo da mulher para vender ingressos; na falta de segurança; na falta de creches para @s estudantes que têm filh@s; na atitude cotidiana dos estudantes uns com os outros. O racismo… fica óbvio ao notarmos que quanto mais elitizado é um curso, menos negr@s ele terá, ao constatarmos o quase inexistente número de professor@s negr@s. A homofobia… está presente nas festas em que casais homossexuais são ameaçados e agredidos; o silêncio institucional sobre agressões física e morais baseadas em orientação sexual, identidade e performatividade de gênero demonstram a conivência da universidade em não se propor a alterar as estruturas e lógicas machistas e heteronormativas da sociedade.
E a Universidade, este “espaço de democracia e produção do saber”, o que faz para combater estes problemas sociais históricos? Muito pouco e, pelo contrário, cada vez mais esta instituição os naturaliza e reforça. A universidade vem, dessa maneira, colaborando com práticas e comportamentos opressores que perpassam raça, cor, gênero, sexo e classe. A título de exemplo, a política de terceirização expressa muito bem como essas opressões aparecem e constroem o projeto de universidade que temos hoje: partindo de sua origem de classe, @s trabalhador@s terceirizad@s são em sua maioria mulheres negras, e só entram aqui para trabalhar, servir sem salários dignos, sem boas condições de trabalho e não têm nenhuma perspectiva de usufruírem da função social da universidade.
Temos que combater as opressões na universidade e na sociedade como um todo, e nos organizar com os movimentos existentes na USP e fora dela como a Frente Feminista da USP, os coletivos feministas, o Núcleo de Consciência Negra, o Diversidade Sexual para organizar debates, palestras, mini-cursos e campanhas com estes temas.