* Nota dos estudantes de Relações Internacionais
Na madrugada deste sábado, dia 29 de março, ao final da festa CRIME,
organizada pelas Atléticas do curso de Relações Internacionais e do Instituto de
Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, houve uma série de ocorrências/
violências de cunho machista e homofóbico. Em um primeiro momento, um grupo de
homens assediou várias mulheres, com palavras e incitações a atividades sexuais. Logo
em seguida, reuniram-se ao redor de duas garotas (que preferem não se identificar), e
tentaram agarrá-las e levá-las à força para um local afastado, com o objetivo de estuprá-
las. Foi preciso a intervenção de colegas homens para evitar tais abusos. Logo após, o
mesmo grupo passou a dirigir insultos homofóbicos ao estudante de Relações
Internacionais Cristiano Ferraz, que, incomodado, respondeu aos agressores. Um deles
deu um soco em sua nuca, derrubando-o no chão, enquanto os outros continuaram a lhe
insultar, ao que Cristiano respondia que estavam sendo homofóbicos. Antes que a
situação se agravasse outros estudantes de RI o ajudaram e levaram-no para longe dali,
já que alguns dos agressores continuavam tentando atacá-lo com socos e pontapés,
furando o bloqueio feito em volta de Cristiano.
Essas ocorrências, dadas no âmbito universitário, ambiente que deveria,
supostamente, ser um lugar para questionar o senso comum, são reflexo da sociedade
em que a universidade está inserida: o que ocorreu é apenas consequência latente do
machismo, da homofobia e de diversas outras formas de opressão características da
nossa sociedade. Não podemos enganar-nos pela ideia de que a universidade é uma
bolha na qual não são reproduzidas as opressões que assolam mulheres, LGBTTs,
negrxs e outros setores oprimidos da sociedade. Tampouco podemos relativizar e
diminuir a gravidade dos casos que aqui ocorrem somente por serem praticados por uma
elite supostamente esclarecida: essas situações acontecem com frequência em festas,
eventos e outros espaços da universidade.
Não importa se os agressores desta madrugada eram ou não estudantes da USP:
em qualquer situação, não podemos aceitar que pessoas sejam agredidas e humilhadas,
em virtude de seu gênero, orientação sexual, cor ou classe social. O cotidiano das
vítimas da opressão é permeado por uma constante luta contra a situação de humilhação
e rebaixamento à qual são submetidas com frequência. Tais opressões devem ser
combatidas diariamente, seja na universidade ou fora dela. Dessa forma, acreditamos
que a constante denúncia pública de tais atos é de vital importância e incentivamos a
intervenção crítica nos espaços em que sejam detectadas práticas de violência e
opressão.
Portanto, o Núcleo de Mulheres de Relações Internacionais da USP, o Grupo
LGBT* de RI e o Centro Acadêmico Guimarães Rosa acusam os agressores de
praticarem crime de ódio, violência física e sexual, assim como repudiam a homofobia,
o machismo e outras formas de opressão, que motivam essas ações e várias outras
cotidianamente na nossa sociedade.