NOTA CONTRA A CATRACALIZAÇÃO DA FEA-USP

São Paulo, 24 de Junho de 2012

Ao CAVC:

O CAHIS, Centro Acadêmico de História, posiciona-se acentuadamente contrário à decisão imposta pela diretoria da FEA, referente à instalação de catracas nos acessos aos seus prédios, tornando público nosso apoio às reivindicações do CAVC. Entretanto, discordamos da proposta de consenso emitida pela nota do dia 03 de junho de 2012, uma vez que acreditamos ser imprescindível insistir na ilegitimidade da catracalização do primeiro andar do FEA1 e dos prédios FEA2, FEA3, FEA5. Além de sermos contrários à dinâmica de voto paritário, como opção representativa relativa ao plebiscito.
Primeiramente, acreditamos na importância do espaço público, já que ele representa uma esfera autônoma em relação às circunscrições econômicas, étnicas e religiosas, tendo sempre em vista abarcar o universal, sendo pertencente à todos e alheio à particularismos políticos de qualquer ordem. Contrariamente, a natureza do espaço privado inibe os indivíduos de explicitar seus valores políticos e interesses, enclausurando-os com eles e eliminando a possibilidade de transformá-los ou amadurecê-los, uma vez que os priva de um debate que contemple opiniões e realidades diversas.
Pois bem, a instalação de catracas num espaço público como a FEA, corresponde a uma decisão que pretende ou acaba estreitando o acesso de indivíduos que não sejam ligados à Universidade, fazendo com que a natureza espacial da faculdade tenda ao privado. Ora, a FEA faz parte de uma Universidade pertencente a todos e, por isso, sua decisão pela catracalização mostra-se automaticamente ilegítima, uma vez que neutraliza seu caráter público inerente. A aprovação de uma decisão que vise reverter o caráter público da FEA a um de tipo privado é algo que chama a responsabilidade de toda a comunidade universitária, na medida em que o espaço da FEA, justamente por ser intrinsecamente público, pertence à toda sociedade.
Além disso, é importante ressaltar que a instalação de catracas numa Universidade torna-se legítima apenas quando visa resguardar o patrimônio público (Biblioteca, Laboratório etc.). No entanto, uma catracalização que tem como finalidade principal, a proteção de bens particulares (notebook, mochilas, celulares etc.), mostra-se inválida, uma vez que transgrede a essência do espaço enquanto ágora. Considerando como pressuposto que uma Universidade que se diz pública tem como objetivo primordial resolver os problemas da sociedade, não é isolando-se dela que se faz possível satisfazer este objetivo primeiro, mas sim se imergindo na realidade social e buscando na prática cotidiana solucionar problemas, como o roubo, por exemplo.
Portanto, acreditamos ser importante desmistificar a ideia de que espaço público é de ninguém, construindo uma cultura espacial, de modo a interagir universidade e sociedade. Dessa maneira, questionamos a ampla autonomia das direções das faculdades em tomar decisões, as quais invalidam o caráter público de seus espaços – fato que determinou arbitrariamente a instalação de catracas nos espaços do primeiro andar do FEA1 e nos prédios FEA2, FEA3, FEA5. Por isso cremos que o CAVC deve se esforçar para impedir a catracalização de todas as unidades da FEA. Somado a isso entendemos a importância do plebiscito, embora discordemos de sua dinâmica paritária.

Centro Acadêmico de História – USP