Eleições do centro acadêmico de história- Programa da chapa “Construção Coletiva”

CONSTRUÇÃO COLETIVA – CAHIS 2014 – Pra reescrever a História!

Carta-Programa

 

Somos uma chapa formada por estudantes de vários anos do nosso curso. Queremos, através dessa carta-programa, apresentar nossas ideias e propostas para um CAHIS de todxs e que esteja à altura dos nossos desafios!

Em que situação estamos inseridxs?

Há algo de diferente no Brasil desde o ano passado. Quando saímos às ruas de norte a sul do país em multidões e conquistamos a redução do preço das passagens, um novo sentimento despertou em nossos corações e mentes: com nossa mobilização, podemos conseguir o que quisermos! Desde então, temos visto as lutas se espalhando pelas ruas. Greves de categorias se espalharam pelo país – a vitoriosa greve dxs Garis do Rio de Janeiro, xs operárixs do COMPERJ, as atuais greves de Cubatão, que já conta com mais de 15.000 petroleirxs, e dos funcionárixs das universidades federais contra a precarização do ensino público –, inspirando cada vez mais pessoas a lutar pelas suas demandas.

Barramos as leis discriminatórias de Feliciano, ocupamos as ruas na Marcha da Maconha, no 8 de Março, na Parada LGBT em luta pela aprovação da lei de identidade de gênero, e vamos continuar ocupando, ainda nesse mês, no 15M e na Marcha das Vadias!

Nessa conjuntura de mobilizações, a Copa do Mundo aparece como o exemplo mais flagrante das injustiças e contradições a que estamos submetidos. São milhões investidos em estádios, enquanto a saúde e a educação públicas sofrem de sucateamento. Milhares de pessoas são brutalmente removidas de suas casas e deixadas sem ter para onde ir, para que a FIFA tenha garantidos seus 3km de isolamento dos estádios. As mulheres (e em especial as mulheres trans) sofrem mais ainda com o “legado da Copa”: o turismo sexual – inclusive o infantil – já vem aumentando, as jornadas duplas ou triplas são cada vez mais freqüentes. A população negra também tem sofrido cada vez mais com as políticas de “higienização social” das cidades, com os assassinatos da sua juventude e com a permanência do genocídio à população negra. Os casos de Amarildo, Cláudia e DG não são isolados nem “acidentes”. Enquanto investem milhões em estádios sem dar nem mesmo condições mínimas de trabalho (como demonstram as várias greves nas obras da Copa e a morte de nove operários em serviço), morre uma LGBT por dia no país campeão da homofobia.

E o que a USP tem a ver com isso?

Aqui na USP não foi e não é diferente. No ano passado, Junho entrou na USP e fizemos uma greve histórica pautando mais participação de todos nas decisões relativas à universidade: lutamos por uma USP mais democrática. Não atingimos todos nossos objetivos, mas obtivemos vitórias importantes em vários cursos e campi, na capital e no interior.

E não faltam motivos pra nos mobilizarmos aqui. O ano de 2014 começou com uma surpresa para a comunidade universitária: o caso gritante da crise orçamentária, para a qual o reitor Zago pede que “estejamos unidos para vencer”, e para isso, apresenta como única solução possível para esta crise a realização de cortes no orçamento. A Folha de S. Paulo sugere sem nenhuma vergonha a cobrança de mensalidades!

Já sofremos cotidianamente com problemas estruturais, que agora devem se agravar: não temos investimentos suficientes em políticas de permanência, o que se demonstra na falta de creches que afetam as mulheres que têm filhxs e precisam disso para garantir seu estudo e sua permanência na universidade. Estudantes negrxs e pobres – que já sofrem para ultrapassar a barreira do vestibular – são especialmente prejudicados, ao passo que a reitoria se recusa sequer a debater (que dirá em aprovar) uma política de cotas raciais. Também xs LGBT’s, que muitas vezes precisam romper com suas famílias para exercer livremente sua sexualidade e identidade de gênero, tem dificuldades emocionais e financeiras que dificultam bastante os estudos e que não são de maneira nenhuma assistidas pela universidade. O BUSP está cada vez mais demorado e lotado, mesmo tendo sido tornado pago para aqueles que não pertencem à comunidade universitária (problema que afeta a maioria dxs funcionárixs terceirizadxs da USP), e todos os dias passamos por enormes filas nos bandejões.

Sofremos cotidianamente com a falta de segurança no campus, já que não há iluminação suficiente nas calçadas e pontos de ônibus, e os matagais se proliferam. E a presença da PM está longe de significar qualquer tipo de proteção. Sua real função, dentro da universidade e fora dela, é reprimir. A universidade não oferece nenhum espaço democrático para que xs estudantes possam, efetivamente, discutir e decidir sobre os seus rumos.

Todos estes problemas, que são a expressão concreta da falta de democracia da universidade e do projeto de universidade que o governo do PSDB tem para a USP, além de não ser resolvidos, serão aprofundados com os cortes no orçamento, como demonstra a carta enviada pelo reitor à comunidade. Acreditamos que cortar o orçamento não é uma solução possível para a crise da universidade. As contas não devem ser sanadas às custas da precarização do nosso ensino, da demissão e da precarização do trabalho dxs funcionárixs terceirizadxs. Nós não somos nem seremos responsabilizados pelos cortes!

E a História?

Aqui a situação é a mesma. A reitoria já anunciou o congelamento da contratação de professorxs e funcionárixs, até mesmo no caso de demissão ou aposentadoria. Desse modo, continuaremos com salas superlotadas e poucas disciplinas oferecidas. Enquanto sofremos com salas de aula pequenas, desconfortáveis, quentes e sem ventilação, as verbas de manutenção dos espaços físicos foram cortadas em mais de 75%, o que deve significar problemas para nós muito em breve. Os trabalhos de campo, que já eram escassos, tendem a se tornar ainda menos frequentes. Falta papel para imprimir nossos trabalhos na pró-aluno.

Com certeza, estudantes, funcionárixs e professorxs identificam ainda mais problemas. O nosso Centro Acadêmico deve incentivar e aprofundar discussões e debates sobre os problemas específicos que nos afetam no cotidiano. Acreditamos também que, como estudantes de História, temos um papel fundamental a exercer com o conhecimento que adquirimos e produzimos. Devemos influenciar na transformação da História para, a partir do passado, construirmos uma sociedade melhor e mais justa no presente e no futuro. Dessa maneira, consideramos fundamental que continuemos nas ruas lutando pelas nossas demandas! E pra isso precisamos de um CAHIS que esteja sempre sintonizado com os acontecimentos do país, promovendo debates entre xs estudantes com os mais diversos pontos de vista para que possamos avançar juntos em posições e mobilizações! Um CAHIS cada vez mais presente no cotidiano dxs estudantes e do prédio, com cada vez mais espaços de integração e comunicação! É frente a isso que defendemos:

– Mais investimento na educação pública: por 10% do PIB pra educação pública já!

– Não à exploração sexual de mulheres! Mais verbas para o combate à violência contra a mulher!

– Contra o genocídio da população negra! Fora PM e Exército dos morros e favelas! Não às remoções! Desmilitarização da Polícia!

– Criminalização da homofobia e transfobia! Mais investimentos no combate à violência às LGBT’s!

– Contra os cortes no orçamento! Que o governo do Estado aumente a verba para a USP e outras universidades estaduais!

– Cotas sociais e raciais na USP e nas universidades estaduais!

– Fora PM do Campus! Por um plano alternativo de segurança, com atenção especial às mulheres e LGBT’s! Mais iluminação!

– Por mais investimentos em permanência: mais creches, expansão de vagas no CRUSP, mais bolsas, especialmente para negrxs, mulheres e LGBT’s!

– Pela contratação de mais professorxs! Contra o fim das reposições de aposentados e demitidos!

– Mais investimento na infraestrutura do prédio! Melhoria das salas de aula!

– Por mais trabalhos de campo!

Que o movimento estudantil da história seja preto, feminista e colorido!

O país que vai sediar a Copa é também o país em que 1 LGBT morre assassinado a cada 28 horas. Em que os negrxs são 70% das vítimas de assassinato e em que a cada 12 minutos uma mulher é estuprada. Na USP, as coisas não são diferentes. A inexistência de políticas afirmativas para xs negrxs e xs LGBTs e a falta de creches e moradia para as mães são apenas o começo. Os comentários e piadas nos corredores e nas salas de aula (até mesmo pelxs professorxs) e os casos de machismo, racismo, homofobia e transfobia tão comum nas festas completam essa quadro, que torna a universidade e o curso de história um lugar hostil aos setores oprimidos da nossa sociedade.

Mas não aceitamos tudo isso caladxs. Ano passado barramos a cura-gay e o bolsa-estupro do Feliciano, e nesse ano as mulheres e xs negrxs protagonizaram lutas importantes, como os rolezinhos e a campanha #‎NenhumaMulherMereceSerEstuprada. O CAHIS deve se manter ao lado dxs oprimidxs! É por isso que o Centro Acadêmico da História precisa ter como princípio o combate às opressões, tanto dentro do movimento estudantil, quanto nas festas e até mesmo salas de aula, além de organizar os estudantes para esta luta pra fora dos muros da universidade.

– Pela criação de uma secretaria aberta de opressões, que organize atividades e discussões sobre o machismo, o racismo, a homofobia e transfobia.

– Dar aporte e manter com os coletivos auto-organizados uma relação orgânica.

– Procurar aplicar conjuntamente as políticas tiradas por esses coletivos.

– Realizar intervenções nas festas do vão, combatendo todos os tipos de opressão!

– Compor e fomentar a participação dos estudantes em atos e atividades do movimento feminista, negro e LGBT

– Avançar nas discussões com o departamento, para que se apure e se puna todos os casos de machismo, transfobia, homofobia e racismo.

– Exigir que o departamento se posicione a favor das cotas raciais.

– Exigir que o departamento aceite o nome social de todxs xs trans do curso

 

Um CAHIS no cotidiano de todxs, para todxs e para todas as lutas!

Muitos estudantes de história estão se deparando pela primeira vez com eleições para o seu Centro Acadêmico. Outros, com mais anos de faculdade, puderam participar de processos semelhantes em 2012, 2011, ou talvez ainda antes disso. Começamos 2014 com as atenções dos estudantes e dos trabalhadores voltadas para dois fatos políticos: os cortes bilionários de orçamento da USP e a Copa do Mundo. Nesse cenário, o CAHIS não só pode, como deve cumprir uma função central nesse processo: a de ser uma ferramenta para somar, apoiar e construir as lutas dos estudantes e trabalhadores, dentro e fora da USP. Inclusive para chamar atenção ao fato de que as minorias oprimidas são sempre as mais prejudicadas nesses processos. Xs estudantes precisam se organizar para questionar a quem serve essa Copa do Mundo, questionar essa crise orçamentária e a falta de transparência da reitoria, questionar que medidas estão sendo feitas para diminuir o machismo, o racismo, a homofobia e a transfobia tão presentes no nosso dia a dia. O CAHIS deve organizar xs estudantes nessas lutas.

Para que xs estudantes estejam verdadeiramente envolvidxs com o que acontece dentro e fora da universidade, o Centro Acadêmico deve propiciar espaços para discussão e acúmulo político, como ciclo de debates e outros espaços. Deve ser incentivado, inclusive, a participação de estudantes com visões divergentes, para que haja um debate mais rico e para que todxs formem sua própria opinião sobre o que acontece em nossa sociedade.

Um ponto essencial para que consigamos ampliar o alcance das propostas do CAHIS é a melhora da comunicação entre a entidade e xs estudantes. A criação de um jornal aberto, que divulgue discussões políticas, e a revitalização das páginas do CA na internet aparecem como essenciais para envolver todxs nos debates políticos que nos propomos fazer. Somente um Centro Acadêmico em constante contato com xs estudantes pode promover um debate político abrangente, para estar à altura dos desafios que 2014 nos coloca e dialogar com o curso como um todo.

Portanto, fazemos as seguintes propostas para incentivar o debate na História:

– Organizar xs estudantes para ida a atos, com blocos e faixas do curso.

– Comissão para acompanhar o SINTUSP e divulgar as lutas dxs trabalhadorxs nos instrumentos de comunicação do CAHIS (jornais, blogs e facebook), promovendo uma aproximação real entre ambos os setores.

– Grupo de Trabalho (GT) para discutir como os cortes no orçamento vão afetar o curso, paralelo ao do departamento, para que possamos ter mais acúmulo para interferir nesse processo.

– Espaço quinzenal ou mensal para discussão de assuntos externos ao curso e à universidade, em formato de rodas de conversa.

– Semana temática anual de História para debater assuntos relevantes à sociedade e ao nosso curso, permitindo o aprofundamento em temas específicos.

– Organizar xs estudantes para comparecer ao Encontro Nacional de Estudantes de História (ENEH)

– Jornal dxs estudantes de História elaborado a partir de comissão editorial aberta – com regularidade quinzenal ou mensal – com seções a serem decididas em conjunto com xs estudantes

– Dar mais vida à página do facebook e do blog do CAHIS, fortalecendo, com postagens mais regulares, a comunicação com xs estudantes

– Colocar caixas de sugestão no prédio para estimular, por vias alternativas, a apropriação do Centro Acadêmico pelxs estudantes

– Que as Comissões para tocar os projetos do Centro Acadêmico sejam abertas à todxs xs interessadxs

 

Um curso para transformarmos a história!

O debate sobre a nossa grade curricular é muito recorrente nos corredores do nosso prédio. Muitas vezes não nos sentimos contempladxs pelas matérias oferecidas pelo departamento. Existem poucas cadeiras sobre educação, sendo que boa parte de nós seguirá na carreira docente em escolas de ensino fundamental e ensino médio. Além disso, pouquíssimas matérias abordam as questões de gênero, raça e sexualidade, temas importantes para a sociedade, num contexto de aumento da violência machista, homofóbica, transfóbica e racista.

A universidade não oferece espaços democráticos para as discussões de problemas sensíveis axs estudantes, com plenárias em horários inacessíveis, principalmente para quem trabalha. Acreditamos que o CAHIS deve exigir a abertura desses espaços em horários que favoreçam a participação de toda a comunidade, além de fomentar discussões sobre o nosso currículo. Também já existe uma Comissão de Avaliação da grade curricular impulsionada pelo departamento, da qual devemos participar.

– Que o CAHIS organize uma revista acadêmica online, aberta e livre para xs estudantes publicaram seus trabalhos e debates!

– Pela ampliação de plenárias dos três setores da universidade! Democratização da universidade!

– Incorporação e discussão ampla do currículo, intervindo na já criada Comissão de Avaliação, pautando a insuficiente atenção dada à História da África, Indígena e do Oriente, assim como os enfoques na questão de gênero e sexualidade. Por mais matérias eletivas!

 

Um CAHIS que fomente a integração: mais espaços culturais para xs estudantes!

A cultura popular é reflexo da nossa sociedade e coloca em evidência transformações atuais do país. No mundo em que nós vivemos, muitas vezes as manifestações culturais das mais diversas não encontram espaço. O Centro Acadêmico deve criar espaços para dar voz axs estudantes, seja através de saraus, que driblam os obstáculos da divulgação da produção artística independente, ou de festas, que também entendemos como expressões culturais. Além, claro, da importância dos espaços para a confraternização e o aproveitamento de todxs! É importante manter em mente, contudo, que o nosso esforço deve ser de criar espaços seguros para todxs xs estudantes. Portanto, nos esforçaremos ao máximo para denunciar qualquer caso de machismo, racismo, homofobia e transfobia que possa vir a ocorrer, denunciando e repudiando a presença dxs agressores em locais de convivência estudantil.

Outro ponto que achamos essencial para que o CAHIS esteja de fato presente no dia-a-dia do estudante é a revitalização do espaço físico da entidade. A sala do CAHIS não funciona como espaço de convivência estudantil e fica fechada durante a maior parte do dia, sendo aberta apenas para reuniões ou para a utilização de materiais que ficam guardados por lá. É de extrema importância que haja vida nesse espaço! Acreditamos que é papel do Centro Acadêmico tomar medidas para que seu espaço físico seja ocupado pelxs estudantes, pois sabemos que isso caminha lado a lado com a referência que as pessoas possuem na entidade. Para que consigamos, de fato, que xs estudantes se apropriem do CAHIS e encontrem nele um espaço para se expressar, temos as seguintes propostas:

– Promover festas a partir da entidade, mantendo sempre em mente a centralidade do combate ao machismo, racismo, homofobia e transfobia nesses espaços

– Criar um espaço no blog do CAHIS para a divulgação da produção artística dxs estudantes, podendo se tornar uma publicação, a longo prazo

– Reivindicar as cervejadas no Espaço Aquário reservadas ao CAHIS, através da construção efetiva do Fórum do Espaço Aquário

– Dar vida ao espaço físico do CAHIS, promovendo mutirões de limpeza e tendo iniciativas como venda de cerveja e cigarros, para que o espaço esteja constantemente aberto axs estudantes

– Realização de saraus, estimulando a produção independente dxs alunxs do curso

 

Só um CAHIS em constante Construção Coletiva pode reescrever a História!

Os desafios que nos são apresentados são imensos e somente com um Centro Acadêmico mais forte e presente no cotidiano de curso, que construa coletivamente com xs estudantes do curso diversas formas de intervir na realidade, estaremos à altura para enfrentá-los. E é isso que buscamos apresentar: um programa em constante CONSTRUÇÃO COLETIVA.

 

Participam da chapa:

Luan Fernandes, Uirá Ozzetti, Mara Ribeiro, Gabriel Rossetti, Giovani Paiva, Camilo Martin, Julia Forbes, Anna Carolina Peara, Marina Cintra, Letícia Benetti, Lucas Oliveira, Naiara Schranck,  Débora Leite, Débora Alencar, Charles Rosa, Bianca Mansilla, Edson Bossonaro, Ana Carolina Lebre, Ana Carolina Andrade, Helena Marques

 

Apoiadores:

Andressa Simões, Matheus Moraes, Gabriele Rosa Novaes, João Pedro Munhoz, Joice Ferreira